terça-feira, 11 de setembro de 2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

as contradições expostas - alguns questionamentos sobre arte e vida

Se considerarmos a abertura do campo da arte e sua aproximação da vida, que significa que artistas, curadores e as pessoas da arte, de um modo geral, sejam invariavelmente iniciadas e treinadas num campo de tradição tão específica quanto a que chamamos moderna? Que especificidades ainda interessam à arte resguardar? Que há efetivamente de ruptura e de continuidade na contemporaneidade? Por que para tantos do meio artístico ainda causa estranhamento e perplexidade a presença da pichação, por exemplo, em campo institucional? Pode esse estranhamento ser visto de modo positivo, tal como hoje consideramos aquele que impediu a absorção institucional imediata dos ready-mades de Duchamp? Por que, de qualquer forma, curadores ainda se prendem a artistas que se relacionam a uma tradição específica para identificá-los? Não seria uma extensão natural do reconhecimento da arte para além do seu campo mais tradicional que artistas sejam reconhecidos sem que saibam sê-lo? Se já não temos grandes gênios e grandes mestres como os do passado, não será esse o passo definitivo no questionamento da patota que ainda resta? Em última instância, o ensino da arte deveria reorientar-se para uma análise estética do mundo muito mais ampla do que a proposta pelas grades atuais. A tendência ao entrecruzamento de áreas, ou a chamada transdisciplinaridade, precisa ser assumida de forma definitiva.
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Se para reconhecermos algo como arte é necessário deter-se minimamente sobre uma proposição estética qualquer, talvez o sentido da absorção da pichação e mesmo do chamado anarco-funk pelo campo seja apenas permitir lançar sobre este tipo de produção admiração crítica mais séria. O que talvez seja contraditório, mas revelador da condição díspar de nossa cultura, é que certas produções culturais precisem da atribuição de um nome e da inserção em um determinado meio, para ter seu interesse estético e político comprovado. Mas esta é a razão pela qual arte e vida não estão ainda bem fundidos: o espaço da vida não possui a dignidade tradicional do espaço da arte e, distante de ideais, é considerado impróprio para considerações de ordem estética mais detidas. Mas que pretende o campo artístico dando a ver como produção estética significativa de nosso tempo tais produções? Ora, o uso da instituição para que a potência de afeto da obra proposta se alastre por uma certa esfera da sociedade é já uma estratégia de ação política. Se nos causa desconforto que certas proposições não sejam sedutoras ou prazerosas, não será pelos valores burgueses tradicionais que deixam de afirmar? A transformação da experiência proposta não pode justamente ocorrer a partir da necessidade de lidar com a difícil experiência que nos proporcionam? Não serão seus efeitos destrutivos justos com o projeto poético-filosófico de uma vida como obra de arte?