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Se para reconhecermos algo como arte é necessário deter-se minimamente sobre uma proposição estética qualquer, talvez o sentido da absorção da pichação e mesmo do chamado anarco-funk pelo campo seja apenas permitir lançar sobre este tipo de produção admiração
crítica mais séria. O que talvez seja contraditório, mas revelador da condição
díspar de nossa cultura, é que certas produções culturais precisem da
atribuição de um nome e da inserção em um determinado meio, para ter seu interesse estético e político comprovado. Mas esta é a razão
pela qual arte e vida não estão ainda bem fundidos: o espaço da vida não possui
a dignidade tradicional do espaço da arte e, distante de ideais, é considerado impróprio
para considerações de ordem estética mais detidas. Mas que pretende o campo
artístico dando a ver como produção estética significativa de nosso tempo tais
produções? Ora, o uso da instituição para que a potência de afeto da obra proposta se alastre por uma certa esfera da sociedade é já uma estratégia de ação política. Se nos causa
desconforto que certas proposições não sejam sedutoras ou prazerosas, não será
pelos valores burgueses tradicionais que deixam de afirmar? A transformação da experiência proposta não pode justamente ocorrer a partir da necessidade de lidar com a difícil experiência que nos proporcionam? Não serão seus efeitos destrutivos justos com o projeto poético-filosófico de uma vida como obra de arte?
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