sábado, 22 de novembro de 2014

breves divagações sobre a história e os limites de nossa capacidade de agência

É bem verdade que a história é determinante em relação a forma como nossas vidas se desenvolvem. Por outro lado, porém, temos um poder inegável a considerar sobre o modo como a nossa potência de vida se estabelece, e somos assim também determinantes em relação à história.

Desde o princípio da nossa constituição física, somos preparados química e biologicamente para processar estímulos de maneira seletiva, e (re)ativa. Com boa formação, esta inteligência poderá ser verificada para além dos processos celulares, no uso de nossa razão. É por ela que nossa autonomia pode ser reivindicada e, com ela, a autoria dos processos dos quais nos achamos responsáveis ao longo de nossas vidas. Em maior ou menor grau, toda escolha é crítica e, antes de uma determinação externa, é uma apropriação daquilo que é proposto (socialmente, culturalmente, historicamente, ou mesmo biologicamente).

Por mais críticos e ativos que nos pretendamos, porém, nossa operação está necessariamente limitada às possibilidades conhecidas ou disponíveis – nossa liberdade, desse modo, é condicionada. Se nos apresentam o preto e o branco, podemos apenas optar pela mistura ou pelo vermelho, por exemplo, se tivermos estas possibilidades em nosso repertório; do contrário, o exercício de nossa liberdade estará restrito à escolha do preto ou do branco. Nesse sentido, se identificamos um problema na forma como as vidas tem se constituído na contemporaneidade, este problema deve estar relacionado à pobreza daquilo que nossa cultura tem dado a conhecer. Uma das principais razões para isso é o predomínio de uma razão instrumental que, no capitalismo industrial, se acha responsável pelo progresso da vida mediante o uso interesseiro do meio. É esse interesse que coloca numa base muito pouco distinta toda a fartura de escolhas de que dispõe a cultura contemporânea. É por esta variedade que temos a sensação de liberdade, e por ela somos facilmente seduzidos e distraídos da verdade de que praticamente tudo que se nos apresentam são pretos e brancos.
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