quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Desencontro

Se Cézanne e Francis Bacon vivessem hoje, pintariam? Se pintassem apenas, certamente não seriam artistas tão interessantes. Suas obras se cobririam de outros sentidos, sentidos dados por um outro, novo, contexto – o de nossa época, claro.

Não creio que pintariam.

Seria um pouco como se, sei lá, para inverter a ordem das coisas, Jimmy Hendrix vivesse na época de Mozart: conseguiria 'atualizar' sua sensibilidade para impô-la de modo ativo frente à história? ou estaria fadado a viver em desacordo com o próprio tempo? Uma sensibilidade intensa como a sua, teria a chance de adaptar-se? ou emudeceria?

Não quero propor essências. Sei que não há possibilidades de um tempo qualquer ver nascer espírito que pertença a outro tempo. De qualquer forma, espírito de tempo algum é tão unívoco se os espaços são diversos. Como, aliás, são também diversas as subjetividades de um mesmo tempo.

Se não ha como pertencer ao tempo errado, há certamente como pertencer espaços errados - de tipo que constrangem nossas singularidades; espaços opressores. Felizmente, não se pertence a espaços; transita-se por eles. Assim, a pergunta deve deslocar-se do sentido temporal, para o espacial: quais devem ser as condições objetivas do espaço para que permita plena realização a expressões tão singulares do espírito?

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